Quando criança, eu aprendi a ler em uma Cartilha da Editora
Melhoramentos. O sistema de aprendizagem era diferente. Não sou tão antigo
assim, mas acontece que a partir dos anos 60 ocorreram muitas modificações no
aprendizado com teorias, métodos e currículos. A criança aprendia, primeiro, as vogais; depois, juntava
vogais com algumas consoantes, até repassar todas as consoantes. Em seis meses,
a criança aprendia a ler e escrever de modo consciente, sabendo que “b+a= ba,
l+a+ la; ba+la=bala”. Foi assim que “eu vi a uva” e “a ave vive e voa”.
A última lição da Cartilha trazia um texto em versos. Era a
glória; a criança já podia abrir sozinha as portas do mundo. O texto da última
lição dizia:
“Já no horizonte
surge a manhã
É dia, vamos,
ó minha irmã...”
Não sei o motivo, mas esta lembrança me veio por causa da
postagem de um amigo sobre o Coleirinho Erudito. Através de minha janela e do
meu pequeno jardim, todos os dias, quando no horizonte surge a manhã, eu recebo
também a visita de muitos pássaros. São sabiás, coleiros, cambaxirras,
colibris, canários da terra, saíras e o bem-te-vi, maior e dono do território.
Alguns cinzentos, outros verdes, azulados. Nesta época do ano, até tucanos e
maritacas se juntam aos muitos pássaros que vêm comer das frutas que deixo à
disposição deles todos os dias. Durante todo o ano e, principalmente nesta
época, Verão, as garças escuras e grandes que fazem ninhos na mata ao fundo parecem se
multiplicar e surgem muitos ninhos, alvos e cheios de gritos e de vida. Nesta
efervescência de vida, até abelhas da terra chegam para disputar com os
pássaros o mel do mamão.
As aves me dão sua companhia fugaz, mas diária, seu canto variado, mas inconfundível. Alguns só chegam aos pares. São casais que chegam para comer e se protegem: um come enquanto o outro vigia; depois revezam. Realmente, os pássaros sentem-se seguros e alguns já não voam ao pressentir a presença de alguém.
As aves me dão sua companhia fugaz, mas diária, seu canto variado, mas inconfundível. Alguns só chegam aos pares. São casais que chegam para comer e se protegem: um come enquanto o outro vigia; depois revezam. Realmente, os pássaros sentem-se seguros e alguns já não voam ao pressentir a presença de alguém.
Eu creio que, devido à proximidade geográfica, o Coleirinho
Erudito seja da mesma ninhada daqueles que vêm comer todos os dias as frutas
que deixo no meu jardim. Basta cruzar o Parque da Catacumba, na Lagoa, em
direção ao Morro do Corcovado. Eles nem precisam de GPS. Os animais sabem tudo.
Até gostam de Bach, de carinho e de frutas.
E eu estou contando tudo isto porque, um dia, eu aprendi em
minha Cartilha que “a ave vive e voa”.
Luiz Ramos (c)2007
Foto: ramosforest (c)
(Estes pássaros me visitam todos os dias)