Reflexão
“Com efeito, ser o único a viver em prazeres e delícias, tendo ao redor pessoas que gemem e se lamentam, não é ser rei, é ser um guarda de prisão. Enfim, é um médico muito ruim aquele que não sabe curar uma doença a não ser infligindo outra. Outrossim, um rei que só consegue manter seus súditos no dever privando-os do que faz a vida agradável, que esse rei reconheça sua incapacidade de governar homens livres, ou, melhor ainda, que se corrija de sua preguiça e de seu orgulho, pois geralmente é por causa desses dois defeitos que ele é desprezado ou odiado por seu povo; que ele viva de seu domínio pessoal, sem fazer mal a ninguém; que regule seus gastos em função de seus rendimentos; que refreie o mal prevenindo os crimes através dos bons princípios que terá dado a seu povo, e não punindo-os após tê-los deixado proliferar; que não restabeleça arbitrariamente leis caídas em desuso, sobretudo as que ninguém deseja ver exumadas de um longo esquecimento; que jamais, sob pretexto de castigar um delito, se atribua bens que um juiz recusaria a um homem particular, pois o confisco seria tachado de fraude e de injustiça... “
“E jamais ter em seus cofres mais de mil peças de ouro ou o equivalente em dinheiro.”
(A Utopia – Tomás Morus – pág. 53 - trad. Paulo Neves - ed L&PM – Porto Alegre – 2006)
Foto: ramosforest©
2 comentários:
Não foi por acaso que ele botou o título da obra. O bom senso, apesar de ser considerada a qualidade mais bem distribuída entre os homens, nem sempre prevalece na prática. Fica a beleza da reflexão e a sapiência das palavras. Abraços.
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