O cogumelo e a Via Láctea
Eu compartilho o meu café da manhã em coador de pano e em fogão de lenha, com meus amigos e, também, com as aves que pousam todos os dias no jardim de minha varanda. E, por último, mas não o último, com o Bruni, o meu cão.
Durante todo o dia, amigos e pássaros passam por minha casa para uma visita. Todos, eles trazem poesia, crônicas, músicas, cantos, trinados, simplicidade e encantamento.
Eu acordo muito cedo, ao raiar do dia, com os cantos dos pássaros, com a vontade de me comunicar com meus amigos e de pedalar pelos 7.400 metros da Lagoa, antes de ir trabalhar. A lagoa cada dia nos apresenta uma nuance nova em sua paisagem: sol, gente, aves, chuva, névoa, maré alta, vazante...
Ontem, um encantamento especial aconteceu. Fui despertado mais cedo, com a madrugada teimando para não ceder seu lugar à luz do sol. Ouvi ruídos; não era o meu cão me despertando, nem os pássaros que trinam solicitando sua porção de frutas já costumeiras.
Eram ruídos e vozes diferentes, umas, anasaladas; outras, metálicas; outras ainda, aveludadas. Prestei muita atenção e notei que as vozes vinham do meu jardim e fui averiguar o fato.
Devo ter feito mais ruído do que o necessário, pois notei que, ao abrir a porta corrediça da varanda, grupos de pequenos seres escapavam da varanda, voando, correndo entre as plantas, ocultando-se nas corolas das flores.
Nessa fuga, levavam consigo todos os apetrechos que, de relance, eu avistei: castelos, carruagens, instrumentos musicais, casas de guloseimas, varinhas mágicas, cavalos alados, tapetes voadores...
Porém, na pressa de partirem, para que eu não os visse, eles deixaram no gramado uma casinha de cogumelo. Logo, o sol lançou seus primeiros raios na manhã que surgia no horizonte.
Para os descrédulos, deixo, na fotografia acima, a prova do ocorrido. Não poderei mostrar aos leitores a casinha de cogumelos, pois, aos primeiros raios de sol, a casinha se desintegrou, formando uma nuvem de estrelas que seguiu em direção à Via Láctea.
A minha neta.
Luiz Ramos
Foto: ramosforest(c)
(Texto meu publicado em outubro de 2007 em meu blog no extinto Globoonliners. Minha neta continua linda)
2 comentários:
Eu me lembro do texto, havia me esquecido do lirismo e da beleza de um simples fato do dia, visto por olhos sábios. Abraços.
Esse texto é lindo Luiz.
Vleu a pena reler.
beijos
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