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terça-feira, 15 de junho de 2010

Noites de Junho




ENCANTAMENTO EM JUNHO

As noites do mês de junho são encantadas. Pelo céu cheio de estrelas, pela lua no alto do céu. Pelas festas populares em homenagem aos Santos Antonio, João, Pedro e Paulo.

Durante dez dias, no adro da Igreja Matriz, dezenas de barraquinhas bem organizadas com suas comidas, jogos de pescaria e de argola. O leilão de prendas reunidas pelos organizadores e leiloadas pelo Felipe da Padaria – uma grande demonstração espontânea de como se motiva o cliente e como se apresenta a mercadoria.

- É um belo leitão assado, que acabou de chegar do forno da Padaria. Dez cruzeiros, doze, doze cruzeiros e cinqüenta centavos. Quatorze, para o Doutor Antonio. Quem dá mais? Sintam o cheiro... Quem dá mais? ...
A festa só começava após o retorno da procissão do santo, que era organizada e seguia pelas ruas centrais da cidade, recitando cânticos e rezando o terço:

- Pai nosso...
- Ave Maria...

Durante a procissão, todos seguiam encantados com tudo aquilo, pois havia um ar de misticismo, religiosidade e festividade. As mulheres usavam véus sobre as cabeças. Véus brancos para as solteiras e véus pretos para as casadas e viúvas. Os homens, em geral, usavam paletós e gravatas. O Padre Francisco, italiano, baixinho respeitado, dirigia o cortejo, auxiliado por um grupo de Filhas de Maria e Congregados do Coração de Jesus.

A grande preocupação dos organizadores das procissões e eventos festivos na Igreja era a existência da travessia da Estrada de Ferro Central do Brasil, pois o ramal ferroviário que ligava o Rio de Janeiro a Santos Dumont, em Minas Gerais, passava pelo centro da cidade, com seus três pares de trilhos. Sobre estes trilhos circulavam pessoas, sonhos e riquezas. Pessoas que utilizavam o melhor meio de transporte coletivo, o trem. Sonhos de quem buscava novos horizontes em outras terras, pois os trens chegavam a todos os lugares. Riquezas, pois o minério das terras de Minas já desciam as serras para as siderúrgicas recém instaladas.

Pela cidade passavam dois ramais ferroviários o da Central do Brasil e o da Linha Auxiliar, da Leopoldina. A Linha Auxiliar fazia um percurso distinto, passando por Inema, Werneck, Cavarú, Andrade Costa, Paty do Alferes, Miguel Pereira, entre outras estações, até chegar a Japeri, em direção ao Rio de Janeiro.

Nesta Linha Auxiliar estava a estação do Inema, onde o encantamento do mês de junho chegava ao seu clímax. Em uma capela na localidade, às margens da linha do trem, na noite do dia 23 de junho realiza-se a Festa do Braseiro, em homenagem a São João. Por tradição, um grupo de moradores arma uma fogueira na praça, com barracas de comidas e dança de quadrilha de São João. Um grupo de devotos, à meia noite, espalha as brasas da fogueira e, contritos, passam, vagarosa e confiantes, sobre uma extensão de brasas incandescentes de cerca de cinco metros. Eles passam e retornam pelo mesmo caminho. Sem se queimar. E a festa entra pela noite de São João até de manhã.

É por isso que digo que as noites do mês de junho são encantadas. Por suas estrelas, pela lua no alto do céu. Pelas festas populares em homenagem aos Santos Antonio, João, Pedro e Paulo. Pelas minhas lembranças de menino.

Luiz Ramos©
Foto:ramosforest©

Um comentário:

Ramosforest.Environment disse...

Junho com festas, mas sem balões

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