Cold Front, Mother's Day and remembrance
What a rainy Sunday...
______________________________________
Que domingo chuvoso...
O telefone ressoou no silêncio de meu escritório, neste domingo chuvoso. Lembrei-me de Estações em Cerimonial Procissão, aquele poema do Concurso Literário. Os ventos frios formados na Antártida sopram do Atlântico Sul, desde a Ilha Decepção, como se fosse o vôo de uma gaivota encantada.
Na Ilha Anverse, nuvens baixas ameaçam no horizonte e, logo, se aproximam das Ilhas Malvinas/Falkland. Pingüins, aos milhares, buscam águas cálidas em pleno Oceano Atlântico e nadam, enquanto deixam Porto Deseado ao largo. Os ventos, as correntes, as criaturas marinhas e aladas, tendo Cabo Branco ultrapassado, rumam para Camarones. Após, esse deslocamento de forças vivas da natureza, formado por marinhas criaturas, lobos, pingüins, baleias e impulsionadas por ventos e correntes, passam por Chubut e Galvez. E correntes, nuvens e ventos rumam para o Norte em cerimonial procissão.
Entrementes, cálidos ventos marinhos sopram para Leste desde o Oceano Pacífico. Da Ilha de Pacachamac águias em alto plano se deslocam, no Oeste, como as nuvens surgidas em Callao e que já se aproximam de Cuzco; sobre as Cordilheiras as nuvens encobrem La Paz e passam por Assunción.
O fenômeno meteorológico “El Nino”, algumas vezes, e o “La Nina”, outras mais, brincam sobre as águas e pelos ares, a provocar seus efeitos até em pleno Pantanal. Do Cerro de Montevideo, de onde toda região é avistada e guardada de invasores, são vistos, o rio da Prata, com sua curta extensão e largura a perder de vista e, também, Buenos Aires a se espraiar pela margem oposta do platino charco de Artigas.
Já, então, os ventos se enfurecem em busca de seu destino, rumo ao Atlântico e os animais marinhos e os alados, aos milhares, buscam correntes cálidas, no sentido Sul / Norte, rumo ao Equador.
As correntes aéreas e marinhas, cálidas e gélidas, vindas do Sul e do Oeste, encontram-se, fundem-se. Esse espetáculo da natureza nos é dado a apreciar hoje em dia pelos satélites meteorológicos; e, revolvem terras e mares, a provocar furacões, que destroem pescadores e suas embarcações; que arrasam moradias localizadas em sua passagem. E que trazem, em contrapartida, a renovação e perpetuação da vida. A vida renova-se em todo o Hemisfério Sul graças, em parte, a essa fenomenal procissão.
Um deslocamento imenso e espetacular que, ultrapassa Porto Alegre, a Baia de Babitonga e Ilha Bela, para então alcançar o Rio de Janeiro, de clima temperado, onde uma semente germinou, uma flor desabrochou. Setembro já passou. É Primavera e, hoje, chove.
O telefone, insistente, soou novamente em meu escritório neste domingo chuvoso de outubro.
- Alô. Eu atendo
- Alô, Cláudio, meu filho, uma voz delicada falou do outro lado da linha.
- Não, minha Senhora, é engano. Eu informei. E desligamos.
Infelizmente, há onze anos, minha mãe já não pode mais falar comigo por telefone.
Que domingo chuvoso...
Luiz Ramos
Outubro 2007
6 comentários:
Tocante, forte e excelente post, muito bem.
Vim conhecer seu blog,artigos bem interessantes,parabens.
Abç
Tudo é natural e aí do homem que pensa ser imortal!
Me emocionei com esse seu post, me deixou especialmente sensibilizada. Passei a pensar nos ciclos da natureza e nos ciclos da vida.
Beijus
A natureza impresiona, preciosa foto. Un saudo. A. Cris
oi meu querido,
Este blog também está ótimo. Esse seu post é de mta sensibilidade.
Besitosss
Querido Luiz, "Estações em Cerimonial Procissão" é um de seus poemas mais bonitos, que trazem em cada verso a força do vento e da água, e portanto: da mente e do coração, que sempre estão a procura da bela Primavera. Fiquei aqui imaginando essa situação com o toque do telefone e a voz de uma mãezinha a procura de seu filho e então, ela encontrou você.. Que lindo! Beijos.
Postar um comentário