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sábado, 10 de maio de 2008

Alma minha gentil...


Alma minha gentil...

Desde minhas primeiras lições sobre Literatura, lá no ginasial, eu tento escrever versos. Para aquela namorada que só eu sabia que era minha namorada – nem ela o sabia; para aquela outra bonitona, que eu nem me atrevia a chamar de namorada; para muitas meninas do colégio ou da minha vizinhança.

Assim, eu tomei por exemplo os clássicos que se me apresentavam naquele então:

Alma minha gentil, que te partiste

Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

E viva eu cá na terra sempre triste.

Camões e sonetos. Lindo, especial, na medida certa. Mas, era preciso seguir as regras para construir um belo soneto. Não se esqueça do ritmo, das batidas de mão para marcar as sílabas fortes. Tan, tan, tan, tan... tan,tan... tan,tan,tan...

Se lá no assento etéreo, onde subiste,

Memória desta vida se consente,

Não te esqueças daquele amor ardente

Que já nos olhos meus tão puro viste.

Belos versos cometi naqueles tempos. Mas não se esqueça da rima. Rima rica, rima pobre – cobrava o professor. Mas, por que rimar, perguntava eu. Não bastaria amar? Não, respondia o mestre. Rimar e amar dá rima pobre, concluía ele.

E se vires que pode merecer-te

Alguma cousa a dor que me ficou

Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Nos clássicos tentei buscar inspiração e na regras de Literatura e redação, a técnica. Figuras disso, figuras daquilo. Sintaxe, literárias, anacolutos, cacófatos, hipérboles. Nem sei mais o que, de tantas que eram. Nos autores, Gil, Camões, Vieira – será que ele amava? – Gonzaga e muitos outros mais contemporâneos.

Roga a Deus, que teus anos encurtou,

Que tão cedo de cá me leve a ver-te,

Quão cedo de meus olhos te levou.

E aquele ano escolar passou – rápido, e não foi Deus que cedo de meus olhos a levou. Foi aquele rapaz cabeludo e dono daquela Lambreta vermelha e preta, estudante do 2º. Ano Colegial. Um velho para ela, segundo meu ponto de vista.

Foto ramosforest ©

5 comentários:

Andréa Motta - Conversa de Português disse...

Passando para lembrar que, em 16 de maio, teremos COISAS DO BRASIL. Bom final de semana!

Madalena Barranco disse...

Querido pai Luiz, o rapaz da lambreta vermelha a levou, no entanto... A poesia permaneceu e lhe inspirou este gentil texto. Adorei a foto da biblioteca. Beijos.

Voz do meu Coração disse...

Obrigada Luis por este bom momento de leitura, fez-me lembrar o tempo em que andava na escola. Tanta coisa que tive de aprender, de estudar, para depois na prática pouca coisa utilizar. Obrigada pela passagem pelo meu blog
http://molelos.romandie.com
Sabe criamos este blog bem com a intenção de divulgar o galreamento
utilizadao na terra do meu marido e que infelizmente se está a perder. Mas escrevo para poder enganar a saudade que sinto da familia e do meu Pais, escrevo para enganar a solidão, mesmo que saia coisa sem jeito.
Você me está ajudando me visitando
pois assim me sinto menos sózinha, obrigada
Dora http://coimbra.romandie.com

Anônimo disse...

Meu afilhado tá arrasando!!
Luiz que text maravilhoso. REsgatando versos da vida, saudosismo, inspiração certeira!!

beijos

Alda Inácio disse...

Muito lindo o teu texto e tua cidade, e pensar que tudo isto é grande garnde que é uma imensidão. Eu, muito feliz estou passando nos blogs participantes com a maior alegria. Pena que não deu tempo de participar diretamente, mas está sendo um prazer redescobrir o Brasil.
Deixo aqui um grande abraço.
Foi um imenso prazer te ler.
Alda Inacio

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